Para especialistas, melhorar formação de professores é crucial

 

Educadores comentam resultados de avaliação educacional que apontou melhoria de índices brasileiros.

Fonte: Carlos Lordelo – Estadão.edu  07 de dezembro de 2010 

Especialistas em educação comemoram a melhoria de indicadores do Brasil entre as edições 2000 e 2009 do Pisa, mas destacam que ainda há um longo caminho pela frente para o País atingir, em 2021, a meta de 473 pontos no exame – a média dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A média brasileira no Pisa subiu de 368 para 401 pontos entre 2000 e 2009. Nesse mesmo período, apenas dois países conseguiram melhorias superiores aos 33 pontos alcançados pelo Brasil: Chile (mais 37 pontos na média) e Luxemburgo (mais 38 pontos).

O Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) testa alunos de 15 anos de todos os 34 países membros da OCDE e, em 2009, de 34 convidados – como Brasil, México, Argentina e Chile, entre outros. Em 2009, ano da prova mais recente, foram selecionados 400 mil jovens em todo o mundo, incluindo 20 mil brasileiros, de todos os Estados. A escolha pela faixa etária permite compara o desempenho dos países, mesmo que os sistemas de ensino sejam diferentes.

O Brasil conseguiu superar a barreira dos 400 pontos em leitura e ciências, mas ficou abaixo desse patamar em matemática. O resultado, no entanto, ainda está longe de ser positivo. Nas três áreas, pelo menos a metade dos jovens brasileiros não consegue passar do nível mais básico de compreensão.

Veja também:  

- Brasil melhora em avaliação internacional, mas continua um dos piores do mundo
- Dez Estados tiveram desempenho acima da média nacional
- Alunos de escolas públicas ficam atrás

- Maior evolução dos brasileiros foi em matemática
- ‘Para continuar avanço, investimento no professor tem que ser prioridade’, diz Haddad
- Para entender: O que é o Pisa?

Para a diretora regional da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI), Ivana de Siqueira, embora os indicadores permitam comparar a situação brasileira a de outros países, o mais importante é avaliar a melhoria do País em relação a 2000. “Temos de observar o contexto nacional e aí o que chama a atenção é a discrepância que ainda existe entre as diferentes unidades da federação”, afirma. “A própria Região Nordeste apresenta disparidades internas. Dentro de um país grande como o nosso, essas coisas acontecem mais.”

Dez Estados brasileiros alcançaram resultados melhores que a média nacional. Todos eles estão nas regiões Sul e Sudeste, com exceção do primeiro lugar: o Distrito Federal, que já foi campeão do Pisa 2006 e agora obteve 439 pontos na média das três áreas avaliadas. No último lugar do ranking aparece Alagoas, com 354 pontos, seis a menos que sua última média. O Estado perdeu pontos em ciências e leitura e melhorou um pouco em matemática.

Segundo Ivana, psicóloga especialista em educação e desenvolvimento, a formação de professores ainda é um desafio para o País. “Ainda não encontramos uma estratégia de melhoria na formação de professores relacionada à remuneração desses profissionais”, diz. “Esse investimento tem de ser conjunto.”

O conselheiro do Movimento Todos pela Educação Mozart Neves Ramos alerta que, daqui para frente, será muito mais difícil avançar na pontuação do Pisa. “Tivemos um crescimento relevante na década, mas isso não significa que estamos num mar de rosas”, diz. Para ele, como o País tinha índices baixos em 2000, foi mais fácil crescer 33 pontos. “Vamos ter de fazer um esforço muito maior se quisermos crescer 72 pontos até 2021, o dobro do que melhoramos nesta década.”

Ramos destaca a necessidade de ampliar os investimentos em educação no Brasil e profissionalizar a gestão dos recursos, para que eles cheguem diretamente ao aluno. O conselheiro também prega a necessidade de um currículo nacional que defina claramente o que cada aluno precisa saber no 5º e no 9º ano do ensino fundamental e no 3º ano do médio.

“Porém, mais importante do que isso é valorizar a carreira do magistério, seguindo a fórmula dos países desenvolvidos: atrair os jovens mais bem preparados do ensino médio para a faculdades de Educação e licenciaturas, estabelecer um bom salário inicial e um plano de carreira que valorize a meritocracia e também melhorar as condições de trabalho”, finaliza Ramos.

Na opinião da ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) Maria Helena Guimarães de Castro, responsável por incluir o Brasil no Pisa, a novidade nos resultados de 2009 não está nas diferenças entre as Regiões, mas o aprofundamento da discrepância entre os níveis dos alunos de escolas particulares, públicas federais e públicas estaduais e municipais.

“A média dos estudantes de públicas federais é de 528 pontos, comparável aos alunos dos melhores países do ranking”, explica Maria Helena. O problema, segundo ela, é que as escolas federais selecionam estudantes e “só as que fazem isso estão conseguindo evoluir”. “Não adianta que só os melhores alunos melhorem. O importante é ter uma média de desempenho que mostre uma melhor qualificação do estudante brasileiro para que eles enfrentem os grandes desafios da sociedade do século 21, que é a sociedade do conhecimento.”

http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,para-especialistas–melhorar-formacao-de-professores-e-crucial,650673,0.htm

 

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