A cidade é nosso mundo natural

 
Fonte: O pioneiro 13/10/2011
Os pesquisadores Ximena Dávila e Humberto Maturana chegam à Capital para mostrar que conhecer é viver
Porto Alegre – À primeira vista, pode parecer um tanto complexo entender as teorias do biólogo Humberto Maturana e de sua parceira, a epistemóloga Ximena Dávila. E foi exatamente para aproximar os estudos dos autores da Biologia do Conhecer e da Biologia do Amar que Zero Hora buscou “traduzir” termos difíceis na entrevista exclusiva que eles concederam desde o Chile.

Os dois estudiosos desembarcam em Porto Alegre nesta semana para o seminário As Emoções nas Organizações, promovido pelo Instituto de Estudos em Gestão Empresarial (Iege), de hoje até sábado. O básico que se pode tirar dos ensinamentos de Ximena e Maturana é que conhecer é viver. Confira trechos da entrevista:

Zero Hora: O distanciamento entre homem e natureza dificulta a sensibilização com o ambiente?

Ximena Dávila e Humberto Maturana: Definitivamente, sim. Agora, a pergunta é: como e quando surge esse distanciamento com o ambiente? Desde o momento em que a industrialização se transforma na forma central de trabalho. A humanidade visa o progresso, que vem de mãos dadas com a massificação de produtos, e deixa de ver e sentir o ambiente como parte fundamental da coexistência. Assim, foi-se deixando de lado o cuidado com o entorno, que é a fonte de energia que faz possível a nossa existência. Hoje nos encontramos em um período de incertezas, começamos a abandonar nossas verdades tradicionais e a nos encontrar com nossa responsabilidade de gerar um ser humano que nos distancia cada vez mais de nossa condição amorosa entre as pessoas e com a natureza.

Zero Hora: Como a cidade se torna parte da natureza para quem vive nela? Como o homem que vive na cidade se difere do que vive no campo? Algum está em vantagem sobre o outro?

Ximena e Maturana: As cidades são o nosso mundo natural porque nascemos nelas e fomos nos transformando com elas. Escutamos com frequência: “a cidade me atrai por ser cosmopolita, por sua rapidez, seu ritmo, pelas oportunidades que oferece” ou “esta cidade é inabitável, demoro duas horas para chegar em casa, me cansa, me esgota”. Essas duas afirmações nos mostram duas formas de viver. Uma, dinâmica, na qual a pressa da cidade seduz, e outra, em que atrapalha. Se fazemos uma distinção da vida que uma pessoa vive no campo, escutamos: “é mais relaxada, está em conexão com a terra, não é tão atribulada, é mais livre” ou “ é muito parada, me aborrece, só é boa para as férias”. Cada lugar onde vivemos tem ritmos e formas onde as pessoas se relacionam de maneiras muito diferentes, não é melhor ou pior viver na cidade ou no campo. A minha qualidade de vida sempre dependerá do que eu quero conservar em meu modo de viver.

Zero Hora: Existe, hoje, uma redução significativa na convivência entre as pessoas em seus bairros e comunidades. Como retomar essa convivência? Qual a relevância dela para o desenvolvimento da sociedade?

Ximena e Maturana: Claro que existe uma redução preocupante da convivência entre as pessoas e os seus bairros. O nosso modo de viver e conviver em família mudou. Um terceiro integrante, que é a tecnologia, entrou no jogo, a TV está muito mais dinâmica do que antes, a internet é um mundo aberto, há os celulares, etc. Eles passaram a fazer parte da dinâmica familiar e são legitimados por ela. Se queremos um desenvolvimento social harmônico, é preciso incorporar o mundo tecnológico sem deixar de lado o encontro de indivíduos, o que sentimos uns pelos outros, saber que nos escutarmos e nos abraçarmos são parte fundamental do bem-estar e da conservação evolutiva da nossa identidade humano-amorosa.

Zero Hora: Vocês afirmam que importa não o que queremos mudar, mas o que queremos conservar. Estamos agindo com o foco errado para tentar conservar o planeta como ele é?

Ximena e Maturana: Tudo muda ao redor do que se conserva e precisamos entender que somos responsáveis em relação ao que desejamos conservar. Hoje, o planeta não é como desejaríamos que fosse, pois nós mesmos colaboramos para a sua deterioração. O pensar e o conversar sobre o que queremos conservar nos leva a buscar uma ação adequada para manter o que nos resta do planeta. Se não temos uma ação adequada onde vivemos, o planeta continuará se deteriorando, pois coisas que vemos hoje, como o aquecimento global, a escassez de água, a morte de seres humanos por fome e a morte de espécies são consequências de uma longa história de cegueira sobre nossa forma de viver.

Conhecimento
Uma das importantes obras de Maturana é A árvore do conhecimento. O livro é escrito em conjunto com Francisco Varela. O título mostra, entre outros assuntos, que o mundo é construído ao longo da interação das pessoas com ele.

A epistemóloga e o biólogo chilenos divulgam, em Porto Alegre, a filosofia de que qualidade de vida é escolher o indispensável

 

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